Sunday, April 01, 2007

Cafe




Um dos centros de atenção, nesses estudos, são os ácidos clorogênicos, substâncias que sabidamente atuam contra a depressão e o desejo de álcool e drogas. Presentes em quantidade no grão do café, esses ácidos influem diretamente na atuação da dopamina, uma substância responsável pelas sensações de alegria e bem-estar, e que é controlada pelos chamados receptores opióides. Substâncias como o álcool e as drogas estimulam a produção de dopamina, razão pela qual as pessoas as procuram para atender à busca de satisfação. Pois bem, as pesquisas de Lima indicam que os ácidos clorogênicos podem bloquear esse processo. Por isso, foram classificados como antagonistas opióides, uma espécie de chave que, ligada aos receptores do cérebro, se faz passar por uma droga, como a maconha ou a cocaína. "O melhor de tudo é que os ácidos encontrados nos grãos de café encaixam-se em todos os tipos de receptores opióides do cérebro, dos que se ligam à cocaína aos que se unem à nicotina, por exemplo", diz Darcy. "Ou seja", completa ele,"o cafezinho que tomamos ocupa o lugar das drogas." A propriedade de encaixe dos ácidos clorogênicos com os receptores opióides foi descoberta pelo pesquisador australiano Kenneth Wynne em 1987. Mas foi o pesquisador brasileiro Luiz Trugo, do Instituto de Química da UFRJ, quem primeiro indicou a presença dos ácidos e seus derivados nos grãos do café. Com isso, chegou-se à conclusão de que são os ácidos, e não a cafeína, como se supunha, que têm a capacidade de modular o estado de humor e impedir a depressão e a procura por álcool e por drogas. "Em 1998, um dos derivados dos ácidos clorogênicos também foi identificado como inibidor da integrase do HIV-1, um dos causadores da aids", informa Trugo, referindo-se ao trabalho da cientista americana Brenda McDougall. O caminho do café por dentro do organismo humano é conhecido. Depois de cerca de meia hora no estômago, as moléculas do café começam a ser absorvidas, indo para o sistema circulatório. Em contato com as células musculares, estimulam o sistema nervoso. Mas é no cérebro que a bebida provoca os maiores benefícios - e o principal responsável é um dos cinco diferentes derivados dos ácidos clorogênicos, formados depois do processo de torra do grão. Chamado de ácido ferulilquínico (FQA), ele inibe a produção excessiva de receptores opióides, impedindo que o cérebro envie mensagens que estimulem a procura pelo prazer pelas drogas ou álcool.